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O Homem da Terra (The Man From Earth), 2007



 Se imagine na seguinte situação: Um de seus amigos de trabalho (cujo você conhece a 10 anos) esta, abruptamente indo embora, está se mudando, e lhe convida para um café na casa dele, para que vocês possam se despedir enquanto ele faz a mudança. Conversa vai conversa vem este amigo revela que está vivo a mais de 14 mil anos, qual seria a sua reação?



 Este é o enredo de O Homem da Terra, filme de 2007, que me sinto um tolo por nunca ter ouvido falar dele, ou nunca ter esbarrado com esta obra pelas minhas idas e vindas nesta internetzona de nosso senhor. Mas penso, também, que talvez o tenha visto no momento certo, pois quem sabem, em outra época de minha vida, eu não tivesse dado o real valor a um filme que se sustenta apenas nas interpretações de seus atores e nos diálogos, que estes mantem afiados até o último momento da película, pois ao serem incluídos na situação que ilustrei no primeiro parágrafo, os personagens se deparam com algo que pode por em xeque suas crenças, sejam elas na ciência, sejam elas na religião, e aqui cabe exaltar mais uma vez o trabalho do elenco, que está mais que a imerso em seus próprios personagens, a credibilidade sobre a personalidade de cada um é sentida não por diálogos expositivos (ok tem um ou outro dialogo expositivo sim, que serve pra pegar atalho afinal são 8 personagens em um filme de 1h25min.), mas pela interação e posicionamento perante algo tão inimaginável no mundo real, mas que no fundo sempre esteve na imaginação de toda a humanidade: e se eu fosse imortal, ou, e se encontrasse alguém imortal, o que nos faríamos?


 E se pessoas da ciência se deparassem com um ser que se diz imortal, e vivo a 14 mil anos, tentariam esses intelectuais por a prova o que conhecem sobre suas áreas de atuação, ou se manteriam descrentes diante de algo que, por mais que seja no fundo o desejo de todos, parece algo impossível, diante de tudo aquilo que conhecem? E é aqui, neste ponto que, para mim, o filme quer chegar: não importa se o homem é ou não imortal, não é sobre isso que o filme quer jogar luz, mas sim sobre a reação de pessoas da ciência perante algo novo que quebra suas expectativas, sobre o confronto de algo novo com aquilo que eles conhecem, baseados nas ciências que estudam. E ao inserir uma personagem religiosa o que o filme está fazendo é contra por ciência e religião e ao mesmo tempo iguala-las como crenças, obviamente uma é baseada em evidências observáveis, enquanto a outra é baseada em sentimentos e emoções, ainda assim crenças e inferências, principalmente se a ciência em questão for a histórica, que por mais que se tenha certeza de vários acontecimentos, outros estão ainda numa área cinza de "inferir e acreditar no que nos dizem as evidencias que observamos", e quanto mais longe no tempo voltamos, mais nos é exigido que aceitemos as evidências, como se o olhar do observador não fosse, por si só, atrelado ao tempo histórico de onde ele está inserido, e por tanto, em uma abordagem mais filosófica, esta observação estar atrelada as suas crenças. E nisso o filme é muito competente, da religiosa que se fere ao deparar-se com uma possível verdade, que colocaria em risco tudo aquilo em que acredita, até o cientista que, vendo suas informações sobre a religião da colega serem confirmadas, se exalta por ter tido em suas mão a confirmação de suas crenças, mas que foram perdidas quando o personagem principal revela que tudo não passou de um jogo e uma brincadeira, haja vista as crenças deste cientista foram confirmadas, para serem retiradas dele logo em seguida., passando pelo psiquiatra que parece a vontade em analisar seu colega imortal, mas que não aceita a verdade quando está se contrapõe ao momento de vida em que ele se encontra, e indo até o cinismo do biólogo que quer embarcar naquela verdade mas que se mantem com um pé atras para não se machucar com as revelações do amigo, e temos ainda a aluna jovem (que parece estar de casinho com o professor descolado que, fica sugerido mas nunca confirmado, ter uma predileção por se relacionar com suas alunas da faculdade, sempre tem um desses nos filme ne), e aqui está maravilhada com as revelações e possibilidades daquela conversa, afinal, e em teoria, quem quer aprender tem menos dificuldade em aceitar as coisas, em contra partida os velhos possuem mais resistências... como acontece sempre, haja vista: a juventude está sempre buscando possibilidades onde a velhice quer mostrar certezas. 


 Não importa o tipo de abordagem que cada personagem tenha, todos são confrontados com aquilo que acham que conhecem indo de encontro, ou não, com as revelações do personagem principal. O Homem da Terra é um ótimo filme sobre pessoas e seus embates intelectuais, vale muito a pena tirar uma hora e meia do seu tempo pra ver este ótimo filme. 

 E se este post despertou sua curiosidade sobre o filme, temos link abaixo (hehehe). Assista e depois cola aqui pra me dizer se falei muita besteira e quais foram suas impressões sobre o filme. Rolou uma continuação em 2017 que você pode ver, por enquanto no You Tube, clicando no nome logo adianteO HOMEM DA TERRA HOLOCENO 

Caso você tenha se interessado em ver o primeiro ele está aqui (abaixo vou deixar o vídeo, não sei quanto tempo vai ficar sem que algum direito autoral seja reivindicado, então corre pra ver):



NOTA: 9 / 10

Valeu e até a próxima!!!


Post escrito por Surfista Aluminado

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