Pular para o conteúdo principal

Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo (2022)


 Desde que a humanidade foi apresentada ao conceito de Multiverso, nós passamos de forma mais insistente a nos imaginar vivendo vidas diferentes das que vivemos. Inumeras e inimaginaveis versões de nós existem no caldo multiversal, incluindo os universos em que nós não existimos. Esse conceito de multiverso foi ficando mais incrustado na cultura pop por conta dos quadrinhos de horois, que sempre que precisavam apresentar algo muito distinto do que se poderia fazer com seu panteão de seres, tinham que recorrer a escapatória narrativa de criar um universo paralelo onde se poderia utilizar da forma que os autores quisessem, e fazer historias que iriam com toda a liberdade possivel bagunçar o status quo desses personagem em grande nivel, sem a preocupação de haver uma mudança significativa na linha principal, afinal de contar os heroizinhos são antes de tudo produtos de midia que até podem fugir da proposta orginal de sua criação por um tempo, mas devem no longo prazo sempre se manterem como eram nessas abordagens originais, afinal de contas são produtos, podem mudar de embalagem mas sempre devem ter o mesmo sabor. Apesar de discordar disso, olhando por esse vies pode ser mais aceitavel que quadrinhos de herois sejam o que são. 

MAS esse post não é sobre heroizinho, e sim sobre esse excelente filme oriundo da cabeça maluca, e com muita coisa pra mostrar, de seus realizadores, e apesar de se apropriar de premissas advindas das historias em quadrinhos, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo tem a intenção de bagunçar nossa cabeça e mostrar como podemos, ou não, aceitar nossas vidas como elas são, podemos dar nosso melhor ou simplesmente ficarmos alheios a tudo, e não importa as possibilidades do "e se...", o que nós temos nesta vida é o que temos, e se você não fizer nada pra melhora-la ela vai continuar sendo o que é... claro que essa afirmação so funciona pras pessoas que tem vidas meiocres como a protagonista do longa, caso sua vida seja show então obviamente você não vai querer que ela melhore, e ta tudo bem, você faz parte do 1% da humanidade que está satisfeita com a vida que tem... por enquanto...

Uma dona de lavanderia precisa prestar contas sobre seus gastos com a receita federal e aceitar que a filha é homoafetiva, ao mesmo tempo que tenta salvar o multiverso de uma vilã que quer destruir tudo... vai dizer que a premissa não é boa...? E o filme é melhor ainda. Michelle Yeoh é Evelyn Quan Wang, casada com Waymond Wang (Ke Huy Quan) e mãe de Joy Wang (Stephanie Hsu), uma empreendedora cansada da vida que leva e que é na verdade a ultima esperança do universo. Eu adoro essas historias que apelam para nosso egocentrismo, o de sermos mediocres mas na verdade termos em nosso interior uma força que vai alem da compreenção dos outro, ou sermos em verdade algum descendente esquecido de um ser primordial que nos passou, sem sabermos, a força pra sairmos dessa vida mediocre e lograr grandes feitos... que é basicamente 90% de todas as historias contadas (risos). Mas é aqui que o filme subverte esse conceito de escolhido e nos tras uma protagonista que na verdade é escolhida justamente pelo fato de ser pessima em tudo que ela ja tentou fazer. Uma pessoa um tanto sem sal, que nem é boa, nem é má, so não consegue ser boa mãe ao ponto de reconhecer a sexualidade da filha, nem boa esposa ao ponto de compreender que o marido a ama incondicionalmente apesar de pensar no divorcio, e nem boa empreendedora ja que suas contas são uma bagunça e a receita esta de olho nos seus gastos, Evelyn tambem não é uma boa filha, ja que não se impõe em nenhum momento contra seu pai. 

E é nesse caldeirão de conflitos parentais que a protagonista, que não consegue fazer nada direito, entra no meio de uma batalha multversal que pode por fim não so a sua existencia, como tambem a de todos os outros universos. E como o filme é bom em estabelecer as regras e segui-las ao mesmo tempo que bagunça todas as nossas persepções sobre possibilidades e nos faz experimentar o "tudo", o "em todo lugar" e o "ao mesmo tempo" conforme a trama vai avançando, pra mim a experiencia e a conecção com Evelyn se estabeleceu de forma apropriada. E aqui uma observação interessante que o nome do filme é a junção dos titulos dos seus capitulos, que vão refletindo o mergulho que a Evelyn vai dando cada vez mais fundo na compreenção de suas vidas no multiverso, e que de alguma forma tem reflexos na realidade em que ela está. Conforme o filme avança mais, Evelyn vai sendo capaz de bagunçar a vida de suas outras contrapartes multiversais e compreender como uma escolha ruim pode gerar consequencias em todos os universos. Basicamente o que o filme faz é nos apresentar aos questionamentos que sempre tivemos sobre nossas vidas, e nos dizer que "e se..." você tivesse virado a esquina naquela noite chuvosa nada de muito diferente treria acontecido alem de estar tomando outro caminho que daria em algum lugar, que poderia, ou não, resultar em uma realidade muito diferente daquela que você teria. E essa é a maravilha do filme. Fazer esse questionamento nos faz pensar em nossa propria vida e embarcar com Evelyn para que ela possa dar um jeito na sua vida, e consiga derrotar a vilã.

E que vilã, os close-ups que os diretores dão nela em determinados momentos me deixaram aterrorizado, como que Jojo Tupak conseguisse olhar não pra camera, mas para mim, o espectador, e assim ela se estabelece como uma vila que realmente pode transitar entre varios universos, e porque não o nosso? Jobu Tupak é o resultade de uma relação parental abusiva, que apesar de ter sido causado por uma outra Evelyn, é para a protagonista do filme, que fica a responsabilidade de tentar consertar o que suas outra contraparte fez, recai sobre a Evelyn a responsabilidade e o aprendizado que a outra nunca teve, e resolver essas questões é o principlal dilema da personagem. E a interpretação de Stephanie Hsu encarnado Joy ou Jobu é magnifica, conseguimos sentir a dor e o ressentimento que a garota tem, mesmo quando Evelyn parece ter feito a coisa certa, Joy/Jobu não vai se dar por convencida, um fator humano muito importante, afinal, quem nunca desconfiou de mudanças abruptas nas atitudes de seus pais ou parentes, ou não conviveu o suficiente com eles, ou foi criado por pais muito conscientes de suas atribuições e responsabilidades.

Mas antes que você possa estar pensando que se trata de um filme hiperdramatico, eu devo esclarecer que o "Tudo" se reflete também a caracteristida de genero do filme, é uma comedia, mas com drama, ação, pitadas de terror, besteirou e satira de filmes, é serio o momento Ratatouille é de chorar de rir. E essa junção de generos é muito boa, o filme não tem vergonha do que é e não tenta ser mais, ou pedante, apesar de possuir um subtexto muito carregado. As atuações ajudam a consolidar nossa imerção, pois até o elenco auxiliar se entrega sem medo e sem pudor, é absurda a cena de luta onde os adversarios tentam enfiar trofeus em formato de plug anal em si mesmos pra acessar suas contra partes que lutam artes marciais... é isso que você leu mesmo. E essa entrega me puxou cada vez mais pra dentro do filme. E a mudança de genero que te faz rir desses absurdos, mas chorar no apce do filme, mostra o quão habilidosos são os realizadores e como todos estavam realmente investidos no projeto, o que se reflete na nossa satisfação ao final o longa. Ao final eu estava me sentindo como se tivesse comido um pedaço de rapadura, que é doce, mas não é facil de mastigar. Tenho que dizer que eu amo rapadura!!!

Por fim o que dá pra dizer é que o filme é otimo e não tem problebas que possam ser apontados como determinantes, ou dignos de nota, alem do sentimento de querer mais e ver mais universos. Assim a nota não poderia ser diferente, é o melhor filme que vi esse ano até agora, e é muito dificil que tenha outro melhor.

NOTA: 10 / 10 

E é isso ai, até semana que vem.

Mande um e-mail para gente no: portalrotadefuga@gmail.com

Post escrito por Surfista Aluminado

Making-off:

Essa resenha era pra ter saido antes da de Resident Evil, mas eu fiquei tão indgnado com aquela merda de filme que descidi fazer um "a noticia ruim primeiro" em forma de publicação (risos).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Crush: Amor Colorido

Um verdadeiro presente para o público queer em forma de longa metragem, Crush é típico filme de comédia romântica adolescente, daqueles que aquece o coração. Não seria exagero dizer que se trata de uma produção possível de se assistir na sessão da tarde em horário nobre da TV aberta. Dirigido por Sammi Cohen e escrito por Kirsten King e Casey Rackham, o filme é estrelado por Rowan Blanchard e Auli'i Cravalho, tendo seu lançamento no dia 29 de abril de 2022 no Hulu. O longa conta a história de Paige Evans, uma artista do ensino médio que decide se juntar ao time de atletismo da escola para ficar próxima de sua paixão de infância, Gabriela Campos co-capitã da equipe. Após ser acusada de ser KingPun, artista anônimo que faz artes de duplo sentido divertidas pela escola, e correr o risco de ser suspensa, Evans faz um acordo, e usa como desculpa a vaga no time para descobrir quem realmente é KingPun. Por ser completamente desprovida de agilidade em todas e qualquer atividade que eng

Um Comentário Sobre Distribuições Linux

  Algum tempo atrás eu fiz um mini podcast/postcast falando do linux de maneira bem básica e da minha historia no linux. Hoje vou falar um pouco de "sabores"/distribuições do linux especificas. Obviamente vou só pincelar em algumas, não muitas, só pra falar de coisas que andei pensando.

Rota de Fuga podcast 61 - Papo de bar - divagando legal

  Então fugitivos, voltamos e divagamos pra caramba, teve até participação especial nesse episódio então coloca o fone se divirta !